Monday, March 4, 2013

A despedida da Divisão 4

 

Basta uma visita aos diversos blogs e forums de automobilismo do Brasil afora, e chega-se à conclusão de que a Divisão 4 é a categoria que mais inspira saudades nos brasileiros. Sem dúvida a grande variedade de protótipos construídos entre 1969 e 1975 que popularam a série disputada entre 1972 e 1975 até hoje entusiasma um grande número de fãs de automobilismo, inclusive muitos que nem eram nascidos na época, e que hoje têm que aguentar o automobilismo cada vez mais padronizado.

Contra a Divisão 4 militou uma das piores crises econômicas do século passado, causada pelo choque do petróleo de 1974. Os carrões eram caros de manter, e a categoria tinha que competir contra a recém estabelecida, e relativamente barata, Divisão 1 e com a Fórmula Super-Ve, que contava com muito apoio da VW e até mesmo transmissões televisivas, algo inimaginável para os protótipos.
A temporada de 1973 foi de longe a melhor da Divisão 4, seguida de uma paupérrima temporada de 1974, com três corridas do campeonato brasileiro, e um par do campeonato paulista. Para 1975, a categoria contaria pelo menos com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, e com a novidade do Hollywood Berta, carro encomendado pela Equipe Hollywood, junto ao preparador argentino Oreste Berta, equipado com motor Ford.

Manta-Chrysler de Valdir Favarin - vice-campeão na maciota e com valor.

A última corrida do campeonato de 1975, em Interlagos, acabou sendo a última corrida da D4 no Brasil. A D4 acompanhou o calendário da Super Vê naquele ano, e o contraste não poderia ser mais gritante. Ao passo que 41 carros largaram na SV, que teria 3 baterias, a D4 contaria com uma única bateria de 6 voltas, e meros 14 carros, alguns de questionável competitividade. O vencedor, salvo se desse uma zebra, seria o Luiz Pereira Bueno na Classe B, e o Chulam na A. Mauricio já tinha inclusive ganho o seu campeonato na corrida anterior, pois tinha vencido todas 5 corridas. Luisinho tinha ainda que bater Valdir Favarin, que chegava à final com chances matemáticas de vencer o campeonato, pois na realidade, o paranaense liderava a tabela na classe B, por ter pontuado frequentemente.

A corrida foi patética. Luisinho marcou o primeiro tempo (2m52s31), lógico, seguido de Chulam e Muffato. Na largada, parecia que o único carro que se movimentou foi o Berta-Hollywood, que já pôs uma senhora diferença para Muffato, que usou a maior cavalaria para superar Chulam. O único simulacro de emoção se esvaiu na segunda volta, com o abandono do paranaense Valdir Favarin, o único que podia tirar o título da Hollywood. Favarin tinha um Manta Chrysler que não era um carro rápido. Ganhou uma corrida, em Tarumã, devido a abandono de Luisinho, e como poucos carros concorriam na classe B (além dos dois mencionados, Pedro Muffato e Elton Rohnelt disputaram o resto das provas), Favarin acumulou um bom número de pontos, embora ficasse frequentemente atrás de carros da Classe A.

Assim, a última corrida da D4 teve um clima de UTI. Oito carros permaneceram até o final, inclusive o Manta de Mauro Luis Turcatel, que se arrastava na pista. Luisinho fez quarenta e cinco segundos em cima de Muffato, e conseguiu marcar uma volta em menos de 3 minutos. De fato, o Hollywood-Berta provavelmente poderia marcar tempos na casa dos 2m40 em Interlagos, com alguma facilidade, mas não era necessário forçar a barra.

Após a UTI, veio a morte. A D4 foi cancelada a partir de 1976, e o dinheiro da Caixa seguiu o caminho da Formula 2, patrocinando Alex Dias Ribeiro.

Os protótipos só voltariam a correr no Brasil no final dos anos 80. Foi o último título de Luisinho e da equipe Hollywood.

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