Monday, March 4, 2013

A vida dura das Alfonas no Brasil


Diria que a minha paixão pelo automobilismo se deu por uma curta visita feita no ano de 1969. Havia descoberto, na televisão, que a Equipe Jolly tinha sua oficina bem próxima da minha casa, na Rua Frederico Steidel, em Santa Cecília. Já era, digamos, simpatizante do esporte. Tanto enchi minha mãe, que ela me levou lá. Fui muito bem atendido por Emilio Zambello, que não só me mostrou as diversas Alfas, mas 3 recém importadas Corvette e a estupenda Alfa P33 que me deixou babando. No resto do ano segui o precário calendário automobilístico daquele ano, me entusiasmando com as vitórias da Alfa.

Como na mente da criança qualquer coisinha é gigantesca, ficou a minha impressão de que a P33 fez e ganhou muitas corridas. Na realidade, só fez quatro em 1969, e tentou fazer uma em 1970. O carro chegou ao Brasil meio que nem as Simca-Abarth em 1964, na base do 'empréstimo'. Havia sido realizada uma feira de produtos italianos em Sampa no começo do ano, e um dos produtos era justamente a P33.

O carro tinha 2 litros, portanto, não tinha potência para ganhar corridas no Mundial de Marcas. Ganhou a importante prova de Mugello, e teve excelente resultado na Targa Florio de 1968, assinalando a volta da Alfa-Romeo às corridas de primeira linha.

Só que para o Brasil, nada havia aqui que pudesse peitar a Alfa. O carro ganhou suas três primeiras corridas, no Rio (Pace), Curitiba (Marivaldo) e Salvador (Pace), deixando todo mundo para trás. Na última corrida do ano deu azar. Na prova 1000 km da Guanabara, a Alfa finalmente teria concorrentes a altura, uma Lola T70 dos De Paoli e o Ford GT40 de Sidney Cardoso, e bateu os dois nos treinos. Os 3 carrões não terminaram a corrida, e quem levou foi uma mais humilde Lorena-Porsche.

A P33 no auge
Interlagos voltara a funcionar em 1970. A Alfa teve um acidente em treino particular em Interlagos, e foi reformada. Sem a capota, e na cor branca típica dos outros carros da Jolly (em 1969 correu com a cor vermelha da Autodelta), a P33 acabou se acidentando novamente, na volta de apresentação das 12 Horas de Interlagos. Desta vez o estrago foi excessivo, e o carro virou sucata, nunca correndo em Interlagos.

O fim da linha de P33 da Jolly
No fim de 1970, uma outra P33 Spyder veio ao Brasil, pilotada pelos italianos Carlo Facceti e Giovanni Alberti. O carro terminou em terceiro nas Mil Milhas, e acabou ficando no Brasil comprado por Toninho da Matta. O mineiro estava acostumado a pilotar Opalas e karts, mas se adaptou bem ao carro, terminando a primera etapa da Copa Brasil em terceiro lugar. Daí, a Alfa deu azar novamente em Interlagos. Na segunda etapa do torneio, da Matta bateu o carro, que nunca mais competiu no Brasil.

A Alfa de Toninho
Acostumada com o grande sucesso das Alfa Giulias, das GTA-GTAM e da P33 desde 1966, a Equipe Jolly estava numa curva descendente em 1972. As GTA já não tinham categoria para correr, assim a Equipe resolveu investir numa Alfa T-33-3, do mesmo tipo que ganhara três provas do Mundial de Marcas de 1971.

O grande rival da Alfa era o Porsche 908-2 da Hollywood. Ainda assim, Marivaldo conseguiu um honroso segundo lugar na prova dos Campeões em Interlagos, sendo somente superada pela Porsche do grande Luisinho. A primeira excursão ao exterior da Jolly terminou em abandono em Buenos Aires, e nos 500 km de Interlagos Marivaldo Fernandes conseguiu um honroso quarto lugar, recebendo a bandeirada após os Porsches de Joest e Luisinho, e a Ferrari de Herbert Mueller.

A Alfa não compareceu à última prova do Campeonato Nacional de Divisão 6, categoria que foi cancelada pela CBA a partir de 1973, nem tampouco competiu na Copa Brasil. Assim, a Alfa não teria mais onde correr.

A Alfa T33-3 da Jolly, com Marivaldo Fernandes
Foto de Rogerio da Luz

O carro competiu mais uma vez, já equipado com um motor Ford Maverick, nas cores da Equipe Motoradio. Pilotado por Angi Munhoz, o bólido chegou em segundo na prova Cascavel de Ouro, sendo superado somente pelo companheiro Chiquinho Lameirão. O resultado foi bom, pois havia fortes concorrentes na prova, mas de qualquer modo, a Divisão 4 entrou em coma em 1974, nunca mais se recuperando, e o carro foi aposentado de vez.
Texto baseado em pesquisa de Ricardo Cunha

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo baseado em Miami

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