Tuesday, March 5, 2013

Divisão 4 ou o que?



Em 1972 as provas de protótipos ainda dominavam a psiqué do fã brasileiro de automobilismo. Era a época do Porsche 908-2 da Equipe Hollywood, além da Lolinha, Royales, Porsche 910, Ford GT40, e diversos outros carros. Entretanto, obviamente algo não ia muito bem com a categoria, a Divisão 6. Raramente todos os carros da categoria corriam juntos e se não fosse pelos carros nacionais, os grids seriam quantitavivamente paupérrimos. Mesmo na Corrida dos Campeões, disputada no começo do ano em Interlagos, que contou com a estréia de uma Alfa-Romeo T33 da Equipe Jolly, somente 5 carros da Divisão 6 estavam presentes. Não fossem os carros da Divisão 4, a corrida teria sido uma piada.

Já existia um movimento para separar a Divisão 4 da categoria dos estrangeiros, pois havia um número razoável de protótipos no Brasil, construídos a partir de 1969, que justificaria a separação. A lista é longa - diversos AC, MC, Amato, Minelli, Snob's, Camber, Kinko´s, Sabre, Pato-Feio, Casari, Newcar, Furias com diversas motorizações, Meta-20, além dos Avallone, Heve e Manta, que começavam a ser produzidos em bons números, e protótipos existentes no Nordeste, Rio Grande do Sul e no Paraná, sem contar inúmeros protótipos com motor VW, sem nome específico. Sem dúvida, parecia que o futuro dos carros esporte estava nas mãos da D4.
Curiosamente, quando a categoria começou a se desenvolver separadamente da D6, ocorreu algo parecido com o que já ocorria na categoria principal do automobilismo nacional - nunca estavam na pista todos os carros da D4. Assim, nas primeiras provas da D4, era comum ver Pumas, que na realidade eram carros da Divisão 2, categoria que nunca teve uma única corrida no Brasil, e até antiquíssimos Willys Interlagos, que também seriam carros da D2. Era isso ou pobres grids de 10 carros ou menos.

Naquele ano, foi inscrito na categoria um carro que era chamado de D4 por falta de ser chamado de outra coisa. Na realidade, às vezes era referido como Dodge Dart, às vezes como Protótipo Chrysler, mas para mim, não passava de uma versão moderna de uma carretera - um Dodge Dart com peso extremamente aliviado, panca de brabo, mas ainda assim um Dodge Dart. O Dart era o carro com motor mais potente do Brasil, que na realidade foi muito bem utilizado por Avallone em seus protótipos. Mas no levemente disfarçado carro de D3, com motor dianteiro, e impróprio para o miolo interno de Interlagos, o carro nunca aproveitou o potencial do motorzão.

A foto, em todo seu esplendor, mostra o grandalhão Dart de Ricardo Conde em uma das suas aparições em Interlagos, em 1972. Logo o carro desapareceu das pistas, e de fato, a partir de 1973 a D4 foi completamente dominada pelos protótipos produzidos em série, Avallone, Heve, Polar e Manta, com o desaparecimento quase completo dos one-offs.

Divirtam-se com mais esta saborosa incongruência do automobilismo brasileiro de outrora.

Carlos de Paula é tradutor, escritor e historiador de automobilismo brasileiro, até segunda ordem

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